quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Censura. Brasil a seguir à Líbia...

COM A DEVIDA VÉNIA  Estado de S.Paulo, 16/02/2011

Brasil bate recorde
de censura ao Google 



Gabriel Manzano *

Só na primeira metade do ano passado, o Google foi obrigado por autoridades brasileiras a tirar do ar 398 textos jornalísticos. Foi recorde mundial do período. O dobro do segundo da lista, a Líbia. O dado está no relatório do Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), divulgado ontem em São Paulo.

Além disso, nos dias finais da corrida eleitoral brasileira os juízes do País emitiram 21 ordens de censura, revela uma pesquisa do Centro Knight para o Jornalismo, do Texas (EUA). Muitas agências de notícias foram também multadas ou tiveram de remover conteúdos. “Esse quadro mostra que a censura e a autocensura, que vem junto, estão atingindo níveis muito sérios no Brasil”, resumiu Carlos Lauria, coordenador do CPJ, que veio ao Brasil apresentar o levantamento Ataques à Imprensa em 2010. Ele distribuiu ainda outro texto menor sobre a situação na América Latina, em encontro promovido pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). “Nossos levantamentos apontam 44 jornalistas mortos em serviço e 145 presos, em todo o mundo, no ano passado”, resumiu.

A censura ao Estado, hoje em seu 565.º dia, é o destaque de abertura do levantamento sobre o continente. “É espantoso que, num país como o Brasil, um dos maiores jornais seja proibido de noticiar um grande escândalo, que envolve figuras políticas conhecidas. Não consigo imaginar o The Washington Post sendo proibido de publicar algo sobre um ex-presidente americano”, disse ele. Lauria vai a Brasília amanhã, onde se reunirá com autoridades do Planalto, da Secretaria das Comunicações e dos Direitos Humanos. A agenda inclui uma visita ao Supremo Tribunal Federal.

Artifício. Os levantamentos do comitê, nos cinco continentes, apontam um novo artifício dos governos para impedir o trabalho da imprensa: eles enquadram os jornalistas em crimes de outra ordem, como subversão ou atos contra o interesse nacional, nos quais as leis sobre imprensa não se aplicam. Isso tem ocorrido no Oriente Médio, no Casaquistão, na África.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

CARTA DO CANADÁ Se houver quem responda

"Os emigrantes são cerca de cinco muilhões em todo o mundo, a maior parte saiu do país por graves condicionalismos sociais. Têm direito a usar a sua voz publicamente. Ou Portugal não é uma democracia?"
Porquê, RTP, porquê?

Uma das coisas que mais nos maça é a falta de respeito

Fernanda Leitão

A situação é esta: nós, os emigrants, gostamos da RTP na sua vertente internacional, embora achemos um despautério o exagerado espaço que dá à pequena política, isto é, às opiniões, em geral disparatadas, de uns senhoritos partidários que mais não querem do que o poder e com provas dadas de que não valem nada. Ou a verdadeira entronização de uns sujeitos que se dizem humoristas e não passam de choldra. Mas, tirando isto, queremos bem aos programas que nos dizem como de facto está a nossa terra, os que nos trazem novas culturais, os que nos ensinam e divertem.

Mas começamos a ficar de pé atrás. Daí à completa desconfiança, vai um passo.

Uma das coisas que mais nos maça é a falta de respeito com que a RTP falha horários e programas que exigem continuidade. De repente, sem explicações, desapareceram as séries LIBERDADE 21, PAI À FORÇA e CONTA-ME COMO FOI. De repente também, sem dizerem água vai, passam algumas destas séries a destempo, sem terem a delicadeza de exibir ao menos um resumo do passado para que possamos encontrar o fio da meada. O mesmo se passa com os horários que deviam estar na internet e muitas vezes estão ausentes dias seguidos, o que leva logo os emigrantes a dizer que “lá em baixo lidam mal com os computadores”, convicção que lhes vem das grandes secas passadas em repartições públicas, quando se deslocam a Portugal.

E agora, confirma-se que a RTP acaba com o programa CONTACTO, feito em todas as comunidades espalhadas pelo mundo, já em Abril próximo. É uma muito má decisão acabar com aquilo que é feito pelas comunidades, provavelmente para impingir uma imitação feita por equipas vindas de Portugal que não sabem de todo como é a imigração e, quase sempre, se deixam manipular por grupos de interesses locais, ávidos de promoção e palco mas sem representarem serviço às comunidades. É verdade que há programas CONTACTO que precisam de melhorar a sua qualidade mas que, apesar disso, dão o retrato da comunidade emigrante que servem. Cabe perguntar porque é que as equipas locais do CONTACTO não merecem formação e reciclagem, se para vir cá fora pedir votos e dinheiro é a prática correntia dessa gente da coisa pública.

É importante este programa dar o retrato fiel da comunidade? É muito importante, se partirmos do princípio que só se ama aquilo que se conhece. Porquê a população residente em Portugal não há-de conhecer os que vivem longe para os entender melhor? Dir-me-ão, como já ouvi, que o programa PORTUGUESES NO MUNDO é quanto basta. Não basta, embora o programa seja interessante e bem feito, porque ali se contam apenas as vidas de alguns portugueses, em geral com bom grau académico, que por aventura e gosto foram viver para o estrangeiro. Os emigrantes são cerca de cinco muilhões em todo o mundo, a maior parte saiu do país por graves condicionalismos sociais. Têm direito a usar a sua voz publicamente. Ou Portugal não é uma democracia?

Porquê esta tentação colonialista, RTP? Noutros tempos é que Portugal impunha tudo às colónias: desde o vinho e o azeite, até aos livros escolares. Sei do que falo, porque sou do chamado Ultramar. Sou ”ultramada” como milhares doutros: aprendemos botânica e zoologia em livros que nos falavam de vegetais, frutos e animais que não havia na nossa terra. Tivemos de decorar todos os rios, afluentes e estações de caminho de ferro. Foi uma estupidez que deu no que deu. É isso que se quer de novo? Achará a RTP que os emigrantes são portugueses de segunda como o salazarismo achava dos brancos nascidos em África? Será por isso que não nos liga importância, considerando-nos o “Resto do Mundo” como o PSD nos baptizou há uns largos anos?

Na blogosfera circulam prosas iracundas contra os altos salários auferidos por vários membros da RTP. Eu não me impressiono com altos salários desde que os beneficiados correspondam com excelente trabalho e assinalável produtividade. A bom entendedor... E também sei que a blogosfera é o vazadouro de quanto há de bom e mau. Mas é minha convicção que a RTP tem de ser prudente, sensata e inteligente nas decisões a tomar.