"O alargamento da União Europeia em 2004, trouxe consigo uma ilógica orgia de 7-aberturas-7, nos países bálticos, na Eslováquia, na Eslovénia, em Malta e em Chipre, que ainda mal abriram e já parece estarem a caminho da extinção. (...) Havendo que poupar há que reestruturar mas salvaguardando o melhor aproveitamento possível de meios. E nesta perspectiva, além do levantamento do que haja sub-aproveitado por esse mundo fora (que é feito do desaproveitado magnífico terreno em Berlim, que destino terá o milionário apartamento em Nova Iorque?), bastante se poderia fazer.
Tem sido um abre e fecha
como nas mercearias de bairro
As redes consulares europeias começam a aproximar-se da virtualidade, apesar dos custos nacionais, com consequências nas remessas
como nas mercearias de bairro
As redes consulares europeias começam a aproximar-se da virtualidade, apesar dos custos nacionais, com consequências nas remessas
Chanceler Ruella Roaz Marques *
Desde que o país ficou de tanga, ao entrar no pântano, que cada governo que chega fecha um ror de postos e chama-lhe reestruturação.
Claro que Portugal não tem dimensão, interesses ou necessidades que exijam estar presente em todos os países, também será óbvio que de tempos a tempos se poderão rever as redes diplomática e consular, mas esta 3ª leva em menos de 10 anos, começa a cheirar a esturro, contrariando a ideia de que há um bloco central de interesses em política externa.
Quanto à rede consular está a desenhar-se a política "se um diz mata o outro diz esfola", nomeadamente à custa dos emigrantes.
Cesário já tinha encerrado uma mão cheia de consulados, Braga encerrou mais uns quantos - e despromoveu ainda mais -, Cesário regressa e parece querer fazer desaparecer serviços despromovidos, sem que os aprendizes de vice-cônsul, além de serem muito mais baratos, tenham dado má conta do recado (excepto aquele boy que as Necessidades enviaram para Porto Alegre) ou se veja um fio condutor. Por aquilo que se lê, as redes consulares europeias começam a aproximar-se da virtualidade, apesar dos custos nacionais que daí possam resultar, com consequências nas remessas (que chegam predominantemente do velho continente e não dos berardos), agora que a massa dos emigrantes voltou a ser interessante.
Quanto à rede diplomática vem-se desenhando um "abre e fecha" que não abona em favor dos critérios mais recentes: Abidjan abriu e fechou, Manila a mesma história, Windhoek então é um vai e vem - ora abre, ora fecha, ora volta a abrir -, Andorra, onde o lógico consulado foi objecto de um inexplicável up-grade passando a embaixada (já agora, que tal uma embaixada honorária no Mónaco?), parece estar em vias de encerramento, podendo acontecer que que com a água do banho (diplomático) deitem fora o bébé (consular).
O alargamento da União Europeia em 2004, trouxe consigo uma ilógica orgia de 7-aberturas-7, nos países bálticos, na Eslováquia, na Eslovénia, em Malta e em Chipre, que ainda mal abriram e já parece estarem a caminho da extinção.
Não é que daí venha grande mal ao mundo, mas deveria ter havido mais reflexão e consenso antes de se dar esta imagem de que as representações abrem e fecham como mercearias de bairro do pingo doce.
Claro que havendo que poupar há que reestruturar mas salvaguardando o melhor aproveitamento possível de meios. E nesta perspectiva, além do levantamento do que haja sub-aproveitado por esse mundo fora (que é feito do desaproveitado magnífico terreno em Berlim, que destino terá o milionário apartamento em Nova Iorque?), bastante se poderia fazer:
- Portugal tem consulados-gerais em 6 capitais ao lado das respectivas embaixadas - Caracas, Londres, Luxemburgo, Luanda, Maputo e Paris - que poderiam passar a secções consulares das ditas, algumas que fossem.
- Portugal tem ainda consulados-gerais em cidades com missões multilaterais - Estrasburgo, Genebra, Nova Iorque - que poderiam levar semelhante caminho.
- Portugal tem ainda mais do que uma representação diplomática em diversas cidades, onde se poderia aplicar o que já está em curso em Bruxelas, com a embaixada a acolher-se à REPER, a saber Paris, Viena e Roma, na certeza de que o Vaticano seria o último a não compreender que a sumptuosa representação junto da Santa Sé, seja franciscanamente encerrada para poupar a favor dos mais atingidos pela crise.
- Continua a não se entender que se pense em encerrar serviços consulares cujos vizinhos estão a centenas de quilómetros, mas nunca mais se tenha falado da proposta inicial de Braga, que previa os encerramentos de New Bedford, Providence e Nova Iorque, apenas a dezenas de Boston e Newark.
- E já agora, porque se mantém a secção consular em Pretória com instalações próprias, podendo rentabilizar a generosidade das da embaixada, ou alternativamente recorrer a Joanesburgo, a menos de 100 quilómetros?
* Auditor externo
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