quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Diplomacia económica. Escreve João Santos Lucas

" O perfil do diplomata comercial tende a determinar as suas preocupações no desempenho da sua actividade: o diplomata generalista, para quem as questões comerciais são sempre vistas no contexto político e diplomático mais geral, vai pretender satisfazer o seu MNE; o funcionário público da economia interpreta a sua função num quadro da economia internacional e vai procurar agradar ao seu Ministro da Economia; o gestor diplomata valoriza a natureza do negócio e vai procurar focalizar-se na satisfação do cliente. Existem no mundo em operação cerca de vinte mil diplomatas comerciais com um custo superior a quinhentos milhões de dólares americanos, com uma crescente concentração regional em função do potencial de mercado."



Diplomacia económica



João Santos Lucas *

O objectivo final inculcado na mente de cada funcionário do Foreign Office foi sempre económico. Uma afirmação que não parece deslocada da realidade no caso britânico mas difícil de ser aplicada a outros contextos nacionais.

A diplomacia económica não é, obviamente, uma prática recente. É, desde sempre, uma componente fundamental da política e da acção externa do Estado, envolvendo o presidente, o governo e, esporadicamente, até mesmo o parlamento. Um parlamento, quando toma medidas que têm impacto nas outras economias, alargando ou restringindo a investidores e exportadores de outros mercados externos o acesso ao mercado interno, intervém no domínio da diplomacia económica. Entidades privadas, como associações e ONGs, são muitas vezes mencionadas como actores não estatais da diplomacia económica.

A diplomacia económica apoia-se nos serviços de diversos ministérios com particular destaque para o dos Negócios Estrangeiros, das Finanças, da Economia e da Agricultura, mas onde a Ciência e o Ensino Superior ganham cada vez maior proeminência na acção externa dos Estados. A exportação e importação de serviços de saúde, de serviços de educação e de serviços culturais vai alargando o âmbito do conceito tal como as preocupações ambientais.

A diplomacia económica é uma prática que antecede a cunhagem do próprio conceito, a sua sistematização teórica e a formulação explícita da política económica externa.


Do domínio à influência

Na acção externa os interesses económicos estiveram sempre associados aos interesses políticos dos países, do período da expansão à consolidação dos impérios coloniais, da Guerra Fria à nova fase da Globalização.

O fim da Guerra Fria permitiu que as questões económicas, na acção externa dos Estados, passassem a primeiro plano e levou a que a diplomacia económica assumisse uma muito maior relevância. Porque as questões de segurança deixaram de ter a mesma prioridade ou passaram elas mesmas a assumir uma natureza de segurança económica. A lógica dos blocos pelo controle ideológico e político das nações foi substituída pela competição pela influência económica a nível global, regional e nacional.

Com o avanço decisivo da globalização os governos passaram a empenhar-se de forma decisiva na diplomacia económica. Porque os resultados económicos e o bem-estar do país passaram a estar em larga medida mais dependentes da interacção entre a economia nacional, as economias regionais e a economia mundial.

Portugal, que nos seus tempos áureos foi um agente da globalização, deixou perder as suas extraordinárias capacidades nos séculos seguintes. Passou ao lado da “belle époque” da globalização que Lorde Brian Griffiths menciona como tendo tido lugar vinte e cinco anos antes da I Grande Guerra. E avança, hoje, lenta e comedidamente por uma integração económica centrada nas Europas, nas Áfricas e nas Américas mas cuja influência tarda em chegar às Ásias.

A recente reunião do G20 ilustra bem a extraordinária importância da diplomacia económica na procura de solução para os problemas económicos mundiais desencadeados pelo comportamento das instituições financeiras dos EUA.

Sintomático é que países de pequena e média dimensão se interroguem se a diplomacia deveria concentrar os seus esforços na diplomacia comercial em ordem a sobreviver num mundo globalizado e altamente competitivo.


Conceito de diplomacia económica

A diplomacia respeita à gestão das relações entre Estados e entre Estados e outros actores. A diplomacia económica respeita à gestão das relações económicas entre Estados e entre Estados e outros actores.

A diplomacia económica exerce-se a múltiplos níveis: bilateral, regional (UE), plurilateral (OCDE), multilateral (OMC). Celebram-se acordos entre entidades do mesmo nível como entre níveis distintos. Acordos duma região com um país (ASEAN e China) evidenciam a complexidade alcançada pelas relações económicas internacionais.

A diplomacia económica é muitas vezes referida como o conjunto das políticas e medidas económicas, que integram incentivos positivos ou negativos (medidas punitivas), dirigidas a outros Estados, a cuja prática David Baldwin (Princeton University Press, 1988) chamou de “economic statecraft”. A Alemanha Ocidental usou durante muitos anos incentivos económicos para ganhar a confiança da União Soviética para permitir uma unificação pacífica, compensando-a nomeadamente das despesas da deslocação das suas tropas da Alemanha Oriental e do seu aquartelamento no país de origem. A diplomacia coerciva é um privilégio das economias poderosas.

Wu Jianmin, Presidente da China Foreign Affairs University, define a diplomacia económica como a procura de áreas mutuamente benéficas no desenvolvimento das relações económicas e diplomáticas com os países estrangeiros.

Um entendimento mais restritivo equaciona o conceito de diplomacia económica como diplomacia comercial, limitada à negociação de acordos de comércio a nível bilateral, regional ou multilateral.
Last but not the least é o uso do conceito de diplomacia comercial que respeita à promoção bilateral do comércio, do turismo e dos investimentos entre Estados, da ciência e da tecnologia e à promoção da imagem do país. Diplomacia comercial é entendida como actividade conduzida por representantes do Estado, com estatuto diplomático, tendo em vista a promoção de relações económicas entre o seu país e o país que o acolhe, encorajando o desenvolvimento de negócios, facilitando encontros, propiciando a formação de redes de empresários e de instituições.


“Knowledge based”

A diplomacia económica baseia-se em conhecimentos teóricos oriundos da literatura das relações internacionais (RI), da análise da política económica internacional (PEI), da análise sistémica, das abordagens centradas no Estado ou na sociedade, do papel das ideologias na formação das políticas nacionais, das teorias da tomada de decisão e da negociação.

A diplomacia económica não é um campo à míngua de reflexão. Existe uma vastíssima literatura com mais de oitenta anos onde não ficaria mal recordar William S. Culbertson que, em 1925, publicou International Economic Policies, A Survey of the Economics of Diplomacy (New York, D. Appleton and Company). O ex-presidente do Banco Mundial, Eugene Robert Black, escreveu largamente sobre o tema, de que se destaca “The Diplomacy of Economic Development (Harvard University Press, 1960). Joseph Brandes publicou em 1962 (Pittsburgh, University of Pittsburgh Press, “Herbert Hoover and Economic Diplomacy 1921-1928”. Largas dezenas de livros e centenas de artigos científicos versam sobre esta matérias específicas do domínio da diplomacia económica, em número crescente a partir dos anos 80. Uma obra indispensável, editada por Nicholas Bayne e Stephen Woolcock, “The New Economic Diplomacy: Decision-Making and Negotiation in International Economic Relations”, publicada em 2003 (Aldershot, UK: Ashgate Publishing, 2003) deveria constituir leitura obrigatória para todos aqueles que intervêm na área ou se interessam pelo tema em apreço.

Ao longo de décadas têm sido objecto de análise o modo como os governos acomodam as tensões entre a política externa e a economia internacional, as pressões domésticas e internacionais por maior eficiência e transparência, a tensão entre os agentes governamentais e os actores privados económicos ou sociais, os instrumentos da diplomacia económica, as políticas e as medidas, as normas e os modelos, os processos e os resultados, o seu enquadramento no contexto dos MNEs.

Nunca, como nos dias de hoje, proliferaram os estudos, projectos de investigação, e reflexões sobre diplomacia económica. O Centre for International Governance Innovation (CIGI/Canadá) tem um programa plurianual a correr sobre diplomacia económica que analisa o fenómeno dos poderes emergentes do Brasil, Rússia. Índia, China, África do Sul, ASEAN e México (BRICSAM), o seu peso no sistema económico mundial e a sua crescente alavancagem diplomática.

Desde o final dos anos 90 que, para o Japão, uma interrogação fundamental no domínio da sua diplomacia regional respeita à forma de manter a sua influência na Ásia Oriental em paralelo com a crescente influência da China. As suas políticas de comércio e investimento externos são objecto de análise tendo em conta a necessidade de manter a sua supremacia tecnológica e diferenciação industrial. Outro enfoque analítico diz respeito à política de promoção de acordos de parceria económica e à estratégia de acordos de livre comércio. A sua estratégia de assistência e ajuda ao desenvolvimento também tem sido questionada internamente.


Rede da diplomacia económica

A expansão das redes de diplomacia económica é uma questão pertinente, existindo evidência empírica (Rose, 2005) que demonstra um crescimento médio de 6 a 10% nas trocas bilaterais por consulado activo.

A diplomacia comercial serve uma pluralidade de stakeholders: em particular, empresas, associações e governos.

Diversas são as soluções organizacionais e o enquadramento institucional das redes da diplomacia comercial: do comando e controle único, ou do Ministério dos Negócios Estrangeiros ou da Economia, ao comando partilhado, da não harmonização à coordenação, da responsabilidade máxima do chefe de missão pela função comercial à total independência.

Sejam conselheiros económicos ou comerciais os agentes da diplomacia económica têm de ter competências específicas. Conhecimento de marketing internacional e experiência de gestão empresarial, a nível sénior, são critérios de sucesso no recrutamento dos diplomatas comerciais. Recomendado é que após três ou quatro anos de actividade diplomática estes voltem ao sector privado a fim de não perderem contacto com a vida empresarial.

O perfil do diplomata comercial tende a determinar as suas preocupações no desempenho da sua actividade: o diplomata generalista, para quem as questões comerciais são sempre vistas no contexto político e diplomático mais geral, vai pretender satisfazer o seu MNE; o funcionário público da economia interpreta a sua função num quadro da economia internacional e vai procurar agradar ao seu Ministro da Economia; o gestor diplomata valoriza a natureza do negócio e vai procurar focalizar-se na satisfação do cliente.

Existem no mundo em operação cerca de vinte mil diplomatas comerciais com um custo superior a quinhentos milhões de dólares americanos, com uma crescente concentração regional em função do potencial de mercado.

É inegável que a diplomacia económica é um importantíssimo segmento da actividade diplomática.

* Gestor e conselheiro para os assuntos do Sudeste Asiático

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Venezuela. Habrá que ver cual es ahora el principal partido de la oposición

"La oposición ha pagado caro su ceguera frente a la llamada disidencia del gobierno. El caso emblemático es el del estado Barinas, feudo familiar Chávez, que perdió el disidente Julio César Reyes porque la oposición formal no entendió el valor simbólico que allí se acumulaba. Hay un sector extremista en la oposición que no quiere saber nada de los disidentes del oficialismo, estigmatizándolos con epítetos grotescos, sin entender que sin la disidencia no se puede constituir una nueva mayoría."


La inconclusión venezolana:
primer análisis

Teódulo López Meléndez *
teodulolopezm@yahoo.com

De inconclusión hablé antes de las elecciones regionales y de inconclusión se trata. En términos de proceso histórico no ha sucedido nada, pero sí en término de coyunturas. La oposición ha mejorado sus bases de batalla. La victoria en la gran Caracas y en Miranda, incluido el emblemático Municipio Sucre (una de las más grandes barriadas pobres de América Latina) son un golpe fuerte para el gobierno de Hugo Chávez. A ello, claro está, hay que sumarle el mantenimiento del control en dos estados o provincias, entre las cuales el petrolero Zulia, y el anexo del estado de Carabobo –centro industrial de Venezuela- y del estado Táchira, fronterizo con Colombia. Tal como estaba previsto la oposición se asienta en nuevas conquistas y gobernará al 45 por ciento de la población de Venezuela. Un resultado nada despreciable, pero un resultado que marca el inicio de una nueva etapa de graves confrontaciones.

La población urbana rechaza al gobierno de Chávez. La llamada “revolución” se convierte en una “revolución rural”. Las principales ciudades del país, en su gran mayoría, pasan a control de la oposición. Esto es, los sectores más comunicados –y uso la expresión para diferenciarla de la expresión sectores más informados- no están con el autodenominado “proceso”. Este cambio es sustantivo y merecerá análisis en profundidad.

La oposición ha pagado caro su ceguera frente a la llamada disidencia del gobierno. El caso emblemático es el del estado Barinas, feudo familiar Chávez, que perdió el disidente Julio César Reyes porque la oposición formal no entendió el valor simbólico que allí se acumulaba. Hay un sector extremista en la oposición que no quiere saber nada de los disidentes del oficialismo, estigmatizándolos con epítetos grotescos, sin entender que sin la disidencia no se puede constituir una nueva mayoría.

La mayor ceguera la mostró la oposición en el caso del estado de Bolívar, donde el obrero metalúrgico Andrés Velásquez perdió porque la oposición no entendió que era él el candidato. Velásquez, quien en el pasado estuvo a punto de ganar la presidencia de la República, ha podido alzarse con la victoria si algunos partidos de la oposición no se hubiesen auto engañado con encuestas evidentemente falsificadas.

Una victoria que merece un párrafo es la de Antonio Ledezma para la Alcaldía Mayor de Caracas. Fue, sin lugar a dudas, el mejor candidato de entre ambos sectores, por su seriedad, constancia y anuncios programáticos. Seguramente sea Ledezma el mejor ejemplo de una elección consciente. Un luchador no populista ni demagogo que gana por su mensaje debe ser mencionado como un ejemplo de madurez ciudadana. Ledezma la verá fea: previendo una victoria de la oposición esa insigne posición de gobierno de la capital de la República fue despojada de la Policía Metropolitana y de los hospitales. Allí campea la ruina, con pasivos laborales, desorden y corrupción. Los problemas que el flamante Alcalde Mayor deberá enfrentar son de tal magnitud que en este momento sólo vemos como signo de auspicio, amén de la capacidad de liderazgo del electo, el hecho de que de los cinco alcaldes de la gran Caracas cuatro le acompañarán en el intento por hacer una gran gestión.

Hay que reconocer a Carlos Ocariz como un insigne luchador. Ganó Petare (Municipio Sucre) una zona de extremada violencia donde los partidarios del gobierno disparaban al aire en la madrugada en que se anunció la victoria oposicionista. Es un joven ingeniero con una increíble vocación de servicio. Será un excelente alcalde. Y la victoria de Henrique Capriles en el populoso estado de Miranda, que es como decir el vecindario de Caracas. Así mismo un reconocimiento para César Pérez Vivas, quien después de ser echado de la Secretaría General de su partido socialcristiano obtiene una celebrada victoria en los Andes (Táchira) dejando con un pulmón al hoy denominado “Partido Popular”.

La reacción del gobierno ante los resultados ha sido de mesura, pero sabemos bien que la mesura le dura horas y vuelve a la agresión, al insulto y a la ignominia. Veremos cual es la actitud oficialista frente a los espacios conquistados por la oposición. Recursos y colaboración están en entredicho. No podemos olvidar el abuso de los medios de comunicación oficialistas, las amenazas de Chávez de sacar tanques y soldados y de meter preso a dirigentes oposicionistas, así como de negarles el agua y el pan a las regiones donde perdiese. Se hizo uso indiscriminando del dinero del erario público y de un lenguaje que, dije en mi anterior artículo, no se había visto ni en las peores dictaduras africanas. Todo el peso del Estado estuvo volcado a hacer ganar a los candidatos del PSUV. La tarea es muy difícil, no sólo desde este punto de vista, sino desde el de concretar una acción de gobierno eficaz que ataque los problemas emblemáticos que sufren los venezolanos. Hay que demostrar que existe una manera eficiente de gobernar. Diría que debe demostrarse tal compenetración con la gente que uno pudiera considerar que se ha iniciado la posibilidad de decir que comienza a construirse un proyecto de país que enfrentar al de Chávez. Esto último es un desafío ingente que impide que los vencedores se vayan a celebrar con güisqui y con el plato tradicional navideño venezolano, las hallacas.

Tres líderes fundamentales del oficialismo fueron derrotados. Diosdado Cabello, Jesse Chacón y Aristóbulo Istúriz. Veremos que hace Chávez con ellos, si los vuelve a llevar al gabinete o los deja de lado. Son caras gastadas y ya dieron al “supremo comandante” la oportunidad de olvidarlos. El oficialista PSUV recuperó – según los primeros números que pueden variar- al menos un tercio de los tres millones de electores que se le esfumaron el pasado 2 de diciembre de 2007 en el referéndum constitucional. Sigue siendo el primer partido nacional. Sin embargo, la cifra oficialista está muy lejos de las palabras pronunciadas previamente a las elecciones por el general Müller Rojas (aquí abundan los generales, los coroneles y todo tipo de militares), vicepresidente del partido de gobierno, quien aseguró que para ellos una victoria con menos de algo más de siete millones de votos sería una derrota. Pues bien, de esa cifra estuvieron muy, pero muy lejos. Por lo demás, habrá que ver cual es ahora el principal partido de la oposición.

El PSUV y su voz única Chávez afinarán ahora la estrategia para tratar de conseguir el único anhelo que los mueve: convertir al teniente coronel en presidente ad eternum. Esa es la gran batalla que los demócratas tenemos delante. Todo está inconcluso en este proceso histórico, la coyuntura simplemente ha sido urbanamente bienaventurada.
* Escritor e diplomata venezuelano

domingo, 23 de novembro de 2008

Iberismo «localista» retrógado. Escreve Sequeira Carvalho

" O iberismo não é mais do que uma das formas do tradicional isolacionismo timorato português, uma justificação fácil para o corte com as dinâmicas mais avançadas da economia europeia e mundial". Nas duas últimas décadas assistiu-se a «uma estratégia espanhola deliberada de se apossar e de controlar os sectores chave para o crescimento económico português»


Iberismo «localista» retrógado
ou internacionalização dinâmica ?


Identidade económica

de Portugal

na encruzilhada



Sequeira Carvalho *

Qual é a posição da Espanha na estratégia internacional de Portugal ? Quais são as consequências do iberismo na economia portuguesa ? Devemos começar por analisar o surto iberista do final do século XIX, quando políticos influenciados por este ideário ocuparam posições destacadas e deixaram uma herança que se repercutiu nas décadas posteriores (1905, 1926).

O iberismo não é mais do que uma das formas do tradicional isolacionismo timorato português, uma justificação fácil para o corte com as dinâmicas mais avançadas da economia europeia e mundial. Isto conduziu, em paralelo, à recusa da concorrência estrangeira e das novas tecnologias, o que teve efeitos negativos na economia portuguesa, a qual só viria a convergir substancialmente, muito mais tarde, quando se ligou à Europa (além-Espanha).

Deve-se abordar a questão numa perspectiva mais actual tendo em conta que nas duas últimas décadas se assistiu não só a um grande desenvolvimento das relações económicas bilaterais entre Portugal e Espanha mas igualmente a uma estratégia espanhola deliberada de se apossar e de controlar os sectores chave para o crescimento económico português; esta situação constitui um facto histórico novo, pelo menos no último século, e dela deve fazer-se uma análise crítica e objectiva de alguns argumentos que pretendem justificar esta situação.

Temos igualmente de salientar os perfis económicos diferentes dos dois países e sublinhar a importância para Portugal, com vista a melhorar a sua posição estratégica, de privilegiar outros laços, menos dominadores, não só no seio da União Europeia, em particular com os países de dimensão semelhante, mas sobretudo com os países do espaço lusófono.

* Diplomata

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

São Tomé e Príncipe. O desaire, tal como na Guiné

"Será que os "gatos pingados" de STP e da Guiné não mereciam melhor sorte e que alguém reparasse o que o Prof. Freitas do Amaral tão irresponsavelmente fez?"

Pouco ou nada se faz


Joana Otchan-Palha *

REGRESSEI de São Tomé e Príncipe, onde tirei umas curtas férias misturadas com serviço.

Escusado será dizer que acabei por verificar que o desaire cultural lusitano é o mesmo que na Guiné-Bissau! Pouco ou nada se faz para além do funcionamento diário do Centro Cultural Português, agora transformado em mais uma repartição do MNE no estrangeiro, quando muito uma biblioteca que ainda vai tendo muita gente, apesar da escassez de jornais portugueses (algo também visto na Guiné).

Muitas foram as pessoas de vários meios que referiram saudosamente o trabalho do ex-Director, Luís Castelo-Branco, que conseguiu conquistar intelectuais e jovens, apesar de só ter estado lá menos de 3 anos. A partida súbito dele com a família (3 miúdos pequenos) causou grande perplexidade naquele meio pequeno que nunca compreendeu os motivos da sua exoneração por tão douta figura como era o Prof. Freitas do Amaral.

Houve quem me confidenciasse que "estes professores, grande cérebros de Lisboa, não percebem nada de África e nem respeitam os interesses de Portugal, quanto mais os dum povo de meia-dúzia de gatos pingados para aqui perdidos no meio do Atlântico". Depois de ver a realidade cultural destes dois países PALOP, os mais necessitados em tudo e, certamente, também na área cultural, começo a acreditar nessa opinião!

No entanto, não deixa de ser interessante que, segundo me refere um amigo e colega marroquino com quem dividi largos anos um estúdio em Marselha, em Rabat haja já um novo Director do Centro que substituiu o diplomata de carreira que assegurou a direcção do mesmo depois da saída de Jorge Forjaz.

Sem currículo cultural e desconhecido no meio (ao contrário de Forjaz), o novo Director tem assegurado algumas actividades, pese o facto do ex-Director e diplomata Pedro Costa ser até um dos diplomatas que tinha "jeito para a cultura" ao contrário de muitos dos seus colegas.

Será que os "gatos pingados" de STP e da Guiné não mereciam melhor sorte e que alguém reparasse o que o Prof. Freitas do Amaral tão irresponsavelmente fez? Ou para quem é, basta uns livros e meia-dúzia de jornais e um local com luz e ar condicionado, pois cultura até já é um luxo em Portugal quanto mais por estas paragens!

domingo, 16 de novembro de 2008

Venezuela. Porque nos diz respeito

"Este proceso electoral no concluye nada. Este proceso electoral es una estación en el camino. Ciertamente contribuirá a desmejorar al régimen en el control absoluto de los poderes locales y marca un hito en el desgaste sostenido del régimen, pero no es más que colocarse en un escalón superior para enfrentar la arremetida. Este hombre, cuyo único propósito y razón de ser, es mantenerse eternamente en el poder e impedir la entrada del siglo XXI como Juan Vicente Gómez impidió la del siglo XX durante 36 años, deberá seguir siendo combatido con inteligencia y diseños muy precisos."


Elecciones en Venezuela:

el inicio de la inconclusión


Teódulo López Meléndez *
teodulolopezm@yahoo.com

I

He advertido sobre lo que comporta votar en dictadura. Basta mirar y oír para percibir con exactitud lo que esto significa. Cuando se producen los resultados se producen las reacciones del gobierno, variadas y aceleradas, como las del dictador Marcos Pérez Jiménez después de las elecciones para Asamblea Constituyente en 1952. He por ello observado que las líneas estratégicas deben estar previamente definidas. Toda posibilidad debe ser analizada y toda respuesta prevista. No sé si he sido escuchado.

Esta es una elección especialmente difícil y me refiero ahora a los resultados. Una conclusión previa incuestionable es que la disidencia al gobierno avanzará de manera notable. De allí en adelante es cuesta arriba hacer pronósticos. Hay variados elementos en juego, esto es, no podemos olvidar que estamos ante una elección regional y local donde afortunadamente –aunque de manera tardía- han aparecido en algunos lados las ofertas programáticas correctas, lo que puede inclinar a muchos electores. Por el otro lado, querámoslo o no, Chávez ha bajado a ser candidato múltiple incurriendo, por lo demás, en un abuso descarado sin antecedentes en buena parte del mundo y a un lenguaje amenazador que no encuentra antecedentes ni en las peores dictaduras africanas.

No se trata de caer o no caer en ese juego, el juego cayó, así de simple, de manera que el señor Chávez debe saber que cada voto que no se emita por su PSUV es un voto de repudio a él en persona. Es él quien ha plebiscitado una elección regional y frente a eso se ha seguido la táctica correcta, es decir, contestar con las necesidades de la gente (seguridad, vivienda, basura, etc.), pero, aún así, el juego cayó y el señor Chávez deberá atenerse a las consecuencias de sus procederes.

Parece innecesario ahora combatir la abstención. No encuentro a nadie que la proclame, como en los días del referéndum constitucional donde este columnista libró, junto a miles, la dura batalla por llevar la gente a votar. Hay una intención firme de cobrar en las urnas electorales la afrenta y de precisar una respuesta contundente frente a este ejercicio impúdico del poder. Habrá que hacer sacrificios extras frente a un proceso que desde ya se ve lento. Terminará tarde esta votación y aún más tarde veremos resultados. Para ello hay que estar preparado con la tranquilidad propia del hombre alerta y con la conciencia adecuada de quien sabe lo que hay que hacer si se producen patadas sobre la mesa.

II

Este proceso electoral no concluye nada. Este proceso electoral es una estación en el camino. Ciertamente contribuirá a desmejorar al régimen en el control absoluto de los poderes locales y marca un hito en el desgaste sostenido del régimen, pero no es más que colocarse en un escalón superior para enfrentar la arremetida. Este hombre, cuyo único propósito y razón de ser, es mantenerse eternamente en el poder e impedir la entrada del siglo XXI como Juan Vicente Gómez impidió la del siglo XX durante 36 años, deberá seguir siendo combatido con inteligencia y diseños muy precisos. Los bastiones que se conquisten deberán ser eficientes en cuanto a lo administrativo y a la eficacia, pero más allá deberán ser manejados con criterios muy diferentes como han sido manejados los que hasta ahora estuvieron en manos de la oposición. Se mantendrán Zulia y Margarita, pero en estos años desde allí no salió planteamiento alguno de respuesta a los desafueros del poder. Zulia y Margarita se multiplicarán por más, pero debe establecerse un clima que impida la pregunta de porqué el control en esos sitios no sirvió de nada para enfrentar el totalitarismo.

III

Si el mérito atribuible a Juan Vicente Gómez es del haber extirpado los alzamientos caudillistas, el mérito atribuible a Chávez fue poner una agenda social sobre la mesa, una que desperdigó, falsificó y desvirtuó, pero que puso. He repetido hasta la saciedad que aquí debemos partir del presente y no del pasado. Con detergente y esponja deberemos limpiar unos cuantos principios correctos que fueron enlodados. Esto deberán comenzar por entender los gobernantes locales nuevos –y los no tan nuevos y los viejos persistentes- que surjan de esta escaramuza electoral para la que nos preparamos. Hay que mirar hacia delante, no hacia atrás. Es el desafío de construir lo nuevo lo que debe presidirnos, no el de restaurar lo que atrás quedó. El ejercicio del poder local debe ser enseñamiento de nuevas maneras y anuncio del futuro. Hay que construir una democracia del siglo XXI, respetando de aquella del siglo XX –ya ida con la era industrial y con la modernidad- sus principios básicos como separación e independencia de poderes y vigencia plena del Estado de Derecho, sólo para mencionar dos, pero bajo la conciencia de la innovación desatada, de la imaginación floreciente que corresponde a la era postindustrial y a este desafío indefinido que se llama posmodernidad.

No es este el momento para teorizar sobre esta democracia del siglo XXI, trabajo que cumplo a diario, pues estamos en una disyuntiva llena de peligros. Es sólo una consideración y una advertencia que exige prácticas democráticas distintas a quienes salgan electos y quieran hacer el porvenir. En el 2009 tendremos –si así se nos permite- otra elección crucial sobre la cual habrá que alertar a la gente con debido tiempo, pues Concejos Municipales y Juntas Comunales deberán merecer nuestra atención en grado sumo, dado que se trata del poder abajo, el más inmediato con la gente a la que hay que sacar del marasmo para señalarle un camino.

Si bien las lecciones en el camino a este proceso electoral se han quedado cortas, las que se den desde los puestos de gobierno conquistados no podrán serlo. Si se fracasa no habrá alternativa, como hasta ahora no la ha habido. Si del ejercicio de los resultados no se muestra otra actitud y otra manera, seguiremos en el mismo hueco de la inexistencia de una propuesta de país que enfrentar al totalitarismo. Eso sería lo peor que pudiese suceder.

IV

Los venezolanos votaremos el 23 de noviembre. Yo lo haré en el municipio Sucre del estado Miranda y por supuesto que lo haré por Carlos Ocaríz para alcalde, por Henrique Capriles para gobernador y por Antonio Ledesma para Alcalde Mayor, como por los candidatos correspondientes al Consejo Legislativo y a los cargos de concejales mayores. Sin embargo, lo que sé es con que tarjetas lo haré. Mis compatriotas deben aprender que tienen otra arma y es la escogencia cuidadosa de la tarjeta con que votan. Aquí hay más de uno que merece un castigo, como hay otros que merecen un premio. De manera que insto a los electores a votar, pero con el cuidado de saber hacerlo con las tarjetas de partidos o grupos independientes que se lo merezcan.

Estamos ya frente a este proceso comicial que es un ítem de mucha importancia, nadie lo puede poner en duda. Uno, no obstante, que es el inicio de una inconclusión. El proceso histórico que atravesamos no tiene un desenlace cercano, por el contrario, entra en una nueva etapa de graves riesgos y de sinuosos peligros. Más allá de los resultados y del comportamiento que tengan los electos, más allá de las marramuncias del régimen, y más allá de cómo enfrentaremos los posibles tsunamis de la coyuntura, lo que a mí me preocupa in extremis es la creación de un nuevo espíritu, la posibilidad de asumir –al fin- estrategias claras que nos lleven a un salto hacia delante, las posibilidades de abrir las compuertas de la imaginación creadora hacia una democracia del siglo XXI, la posibilidad de la emoción inteligente planteándole desafíos inimaginables al país, la conformación de un clima de avance que nos permita llegar a una conclusión que no es otra que la superación de lo presente partiendo desde él. El pasado no se construye, es historia. El desafío a los pueblos es a avanzar. Preparemos el futuro con determinación y con una imaginación creadora desbocada. Así llegaremos a la conclusión, para inmediatamente someterla a escrutinio, pues la democracia es un eterno peregrinar en el conocimiento para la equidad, en la acción transformadora que no se anquilosa, en un cambio permanente e interminable por hacer justicia al hombre.

* Escritor e diplomata venezolano

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Um «novo messias» sentado na Sala Oval. Escreve Sérgio Soares

"Apesar do apoio generalizado do mundo, o principal apoiante de Obama foram os oito anos de presidência de Bush. O já considerado "pior presidente dos EUA", recebeu um país das mãos de Bill Clinton com um superavite de 128 mil milhões de dólares e entrega-o com um défice de quase 500 mil milhões de dólares. Bush será recordado pelo seu rosto de completa indecisão no preciso instante em que um assessor o informou dos ataques do 11 de Setembro, pela criação da prisão de Guantánamo, do "Eixo do Mal" (Irão, Iraque, Coreia do Norte), do agravar da guerra no Iraque e da crise do Médio Oriente, pela crise financeira, e pela sua chocante incapacidade ou falta de vontade em ajudar imediatamente as vítimas do furacão Katrina que varreu a Louisiana."

Que mudanças trará ao Mundo,

a Presidência de Obama?


Sérgio Soares *

Como é possível que quase todo o Mundo tenha torcido por Barack Obama e acredite cegamente nas suas inúmeras promessas de "mudança", apesar de o futuro inquilino da Casa Branca não possuir, literalmente, nenhuma experiência de comando ou de liderança a nível de governo, na área militar, da diplomacia ou no mundo dos negócios?

Na verdade, a única coisa que Obama chefiou até hoje, temporariamente, foi a prestigiada revista de Direito Harvard Law Review na Universidade.

Então, que "encantamento" ou feitiço Obama lançou nestes últimos meses sobre a maioria dos "terrestres" para que estes o vejam como o futuro salvador do planeta?

Obama criou a ilusão dessa ideia de "mudança" que, como todas as ideias, poderá ou não germinar, quando disse num discurso de campanha, quase profeticamente, e referindo-se à sua ainda então putativa liderança, que "este é o tempo em que os Oceanos se acalmarão e o nosso planeta começará a sarar".

O General De Gaulle tinha aquilo que designou por "une certaine idée de la France", uma vaga ideia que produziu o gaulismo, moldou a França debilitada e derrotada, humilhada pelo regime de Petain, numa ideia de grande potência económica, militar e cultural que ainda perdura na vida política francesa. Hoje sabemos que, de facto, isso foi apenas mais uma ideia do que uma verdade incontestada em que também, durante meio século, meio mundo acreditou.

Obama tem um sonho ainda mais ambicioso do que teve De Gaulle. Parte dele é de sua inteira responsabilidade e a restante é de todos nós por querermos acreditar num "novo messias" sentado na Sala Oval da Casa Branca a distribuir Justiça e prosperidade internamente e em todos os recantos do Mundo.

Este messianismo de Barack Obama surgiu inicialmente estampado no seu livro "Dreams from my Father: A Story of Race and Inheritance" e depois no "Audacity of Hope".

Desde que saiu da Universidade de Harvard, quase exclusiva de estudantes brancos, passando pelos seus tempos de organizador comunitário no bairro negro de South Side Chicago, que Obama começou a trilhar, passo a passo, o caminho que o havia de levar ao seu sonho: ser Presidente dos Estados Unidos da América.

Ainda adolescente confidenciou à avó que queria ser Presidente dos EUA. Pouco depois de sair de Harvard disse num almoço de família ao cunhado: "Bem, eu quero ser político. Quem sabe talvez eu até possa vir a ser presidente dos Estados Unidos". O cunhado respondeu-lhe: "Claro, claro, tudo bem, vem cá que eu quero apresentar-te a minha tia Gracie - e não digas isso a ninguém!".

Este enorme "vendedor de sonhos" políticos e morais, apesar da sua ascendência africana, sempre viveu entre brancos, levou grandes "empurrões" favoráveis à sua carreira de brancos influentes, o que provocou a desconfiança dos líderes das comunidades negras, mas que tentou ultrapassar fazendo trabalho comunitário entre jovens negros desprotegidos.

Obama não é um Reverendo Jesse Jackson ou Al Sharpton que jogam sempre a cartada do racismo para conseguirem o que querem. Obama sempre conseguiu estabelecer pontes no Senado entre Democratas e Republicanos e esbater a questão racial nas suas relações sociais e políticas.

Internamente, a primeira grande batalha que Obama vai travar será provar que é equidistante e que não está a favorecer apenas os negros ou apenas os brancos. Ora é sabido que a sua grande ambição é adoptar legislação que favoreça em primeiro lugar os pobres, sem cuidados de saúde, os desempregados, e os que tem tido sistematicamente menos oportunidades.

Nesta categoria caem essencialmente os negros. Esse seu desejo sincero de distribuir mais equitativamente a riqueza vai esbarrar com a actual dura realidade da crise financeira internacional que danificou seriamente a maior economia do mundo.

Externamente, Obama vai ter de provar que é um homem determinado. Os serviços secretos já o advertiram que os terroristas da Al Qaeda lançarão um ataque contra interesses norte-americanos ou de um país amigo (Israel ou o Reino Unido) para o testarem.

Será que vai retirar, rapidamente como prometeu, as tropas norte-americanas do Iraque? Apesar das promessas de querer regressar ao multilateralismo, vai atacar o complexo industrial-nuclear do Irão? Vai atacar, como também prometeu, o Paquistão se este país continuar a dar guarida aos talibans afegãos?

Apesar do apoio generalizado do mundo, o principal apoiante de Barack Obama foram os oito anos de presidência de George W. Bush.

O já considerado "pior presidente dos EUA", recebeu um país das mãos de Bill Clinton com um superavite de 128 mil milhões de dólares e entrega-o com um défice de quase 500 mil milhões de dólares.

Bush será recordado pela imagem do seu rosto que reflectiu uma completa indecisão na televisão no preciso instante em que um assessor o informou dos ataques do 11 de Setembro, pela criação da prisão de Guantánamo, do "Eixo do Mal" (Irão, Iraque, Coreia do Norte), do agravar da guerra no Iraque e da crise do Médio Oriente, pela crise financeira, e pela sua chocante incapacidade ou falta de vontade em ajudar imediatamente as vítimas do furacão Katrina que varreu a Louisiana.

Pelos seus longos oito anos de tragédia política, seria preciso fazer quase o impossível ou autênticos milagres desastrosos para Barack Obama conseguir fazer uma presidência ainda pior do que esta que agora finalmente termina.

Afinal, uma simples ideia ainda parece ser capaz de poder mudar completamente o Mundo.

* Jornalista

Com Obama. Começa o século XXI

"Mi amigo el escritor norteamericano, conservador, republicano, claro producto de la Norteamérica blanca y protestante, me dejó sorprendido cuando desde su pequeño condado vecino a Los Ángeles me hizo saber su decisión: 'Votaré por Obama', dejó escrito simple y llanamente en un mail. Estados Unidos asumía desde ya la comprensión de este mundo del siglo XXI, qué duda cabía."

Obama, in prima epistula


Teódulo López Meléndez *
teodulolopezm@yahoo.com

I

En uno de los documentos más impresionantes de la historia del periodismo norteamericano en cuanto a apoyos electorales, la revista The New Yorker lo dijo todo sobre Barack Obama y sobre John McCain. Más allá, lo dijo todo sobre los Estados Unidos de América. La frase final de un documento que excedía a las meras simpatías por un aspirante a la presidencia para convertirse en una radiografía implacable y en un diagnóstico de una lucidez deslumbrante fue esta: “En momentos de calamidad económica, perplejidad internacional, fracaso político y moral golpeada, los Estados Unidos necesitan tanto elevación como realismo, tanto cambio como firmeza. Necesitan un líder temperamental, intelectual y emocionalmente en sintonía con las complejidades de nuestro atribulado planeta. El nombre de ese líder es Barack Obama”.

La sociedad norteamericana había producido el líder, aún antes del crack económico. Sólo una sociedad viva, inquieta y capaz de erguirse sobre su multiplicidad, sobre sus contradicciones y sobre sus gravísimos defectos, es capaz de producir el liderazgo asentándose sobre sus virtudes y sobre su capacidad de autogeneración. Ese documento memorable no hablaba de aislacionismo, hablaba de la mezcla de realismo y elevación; quienes piensen que los Estados Unidos de Obama entra en una especie de retraimiento andan muy equivocados. Donde entra Estados Unidos es en la percepción emocional de este atribulado planeta bajo la conducción de un líder temperamental e intelectualmente claro. El liderazgo de los Estados Unidos no disminuye, simplemente cambia.

La inteligencia echa pilotes sin necesidad de aspavientos. Quiero decir que quienes han asegurado que la campaña presidencial norteamericana transcurrió sin innovaciones programáticas, andaban absolutamente equivocados. Quienes aseguraron que los planteamientos de Obama o de McCain pasaban sin mayores distinciones, lo hicieron por incapacidad para percibir la terrible sinergia que estaba presente en la elección. Lo que allí se debatía era si los norteamericanos aplazaban el viraje por cuatro años (más no iba a durar la presidencia de McCain) o si lo asumían de una vez. El lado trágico de McCain lo encarnaba Sara Palin, con su conservadurismo perdido en las entrañas de una nación que hacía brotar viejos atavismos e incomprensión total del mundo presente.

Sin lugar a dudas el mundo estaba volcado hacia Obama, pero quienes comprendieron la trascendencia del momento y percibieron la emoción de lo que sucedía fueron los propios norteamericanos. Nunca había visto tanta, tanta entrega, tanta convicción de vivir en un momento estelar de la historia de los Estados Unidos. Mi amigo el escritor norteamericano, conservador, republicano, claro producto de la Norteamérica blanca y protestante, me dejó sorprendido cuando desde su pequeño condado vecino a Los Ángeles me hizo saber su decisión: “Votaré por Obama”, dejó escrito simple y llanamente en un mail. Estados Unidos asumía desde ya la comprensión de este mundo del siglo XXI, qué duda cabía.

II

Hasta aquí la emoción de lo sucedido. Viene ahora la confrontación entre las ideas y la realidad. Nadie puede esperar cambios espectaculares, aún cuando la realidad económica los requiere de urgencia hacia el interior. Obama tiene hasta enero para conformar su gabinete. Ya tiene como vicepresidente a un hombre fogueado por décadas en la Comisión de Política Exterior del Senado, si se quiere un digno representante del establishment, una experiencia acumulada que le servirá de mucho. Los problemas puntuales son conocidos: la guerra en Irak, el desafío que representa Afganistán, pero el asunto es más grave y complicado; se trata de un nuevo lenguaje y de una nueva manera, de un abandono de las ínfulas imperiales, del ejercicio de un líderazgo basado sobre el diálogo y sobre la comprensión de los muchos problemas. Por ejemplo, entre los cerros de basura que se lanzaron sobre Obama en los últimos días de la campaña destacó la de la ultraderecha israelí que protestaba porque dos de cada tres judíos norteamericanos iba a votar por el senador de Illinois y no por la fórmula republicana. Alegaba la ultraderecha que Israel entraba en una suerte de peligro mortal. Lo único cierto es que Israel no entra en ningún peligro y Obama defenderá la integridad israelí, pero con una comprensión profunda del problema palestino. La ultraderecha no puede pretender que el problema palestino siga alargándose por años y que se mantenga una situación de guerra donde los cohetes de la ultra palestina de Hamas sigan cayendo e Israel se asiente sobre una represión militar constante. El problema palestino existe y hay que resolverlo. Hay un elemento de justicia pendiente: no es otro que la suerte del pueblo palestino que tiene perfecto derecho a un estado con fronteras perfectamente delimitadas y a vivir la vida sin sobresaltos y de una manera digna. La incomprensión rodeará al gobierno Obama sobre este punto específico, pero ya no se puede aplazar más la solución definitiva en una suerte de burla permanente. La sensibilidad de Obama sobre este asunto crucial del Medio Oriente y sobre varios más que aquejan al planeta, es donde se medirá esta mezcla de realismo e imaginación, de firmeza y de ruptura de los nudos gordianos.

Con América Latina hay asuntos puntuales y Cuba encabeza la lista. Entre los muchos manifiestos que recibí con motivo de esta elección estaba uno de una autodenominada Juventud Cubana en el exilio en Miami, donde se llamaba a un esfuerzo final para impedir la victoria del comunista Obama en el estado de Florida. En esos términos no se puede seguir funcionando con Cuba. Es hora de que Estados Unidos y Cuba se sienten a dialogar. Así como no se puede esperar un levantamiento unilateral e incondicional del errático bloqueo, tampoco se puede esperar que nada se mueva. El diálogo debe iniciarse y podrá ser todo lo lento que las circunstancias lo ameriten, pero deberá avanzar contra todas las dificultades. El espectáculo del tejemaneje sobre la eventual asistencia norteamericana a la isla con motivo de los dos últimos destructivos huracanes, no deberá repetirse jamás. Paso a paso deberá irse hacia delante: apertura política por apertura económica, liberación de presos por autorización de exportaciones norteamericanas, mejoría notable de los derechos humanos por aumento de los envíos de remesas en dólares de los cubanos-estadounidenses a sus familiares en Cuba. El diálogo entre Estados Unidos y Cuba debe abrirse, ese es otro de los imperativos históricos que ronda la presidencia de Barack Obama.

III

Sí, tal como lo decía The New Yorker lo que caracteriza a este mundo es la perplejidad. Este es un mundo que ha perdido el rumbo, que yace en la irresolución, sin aliento. Devolvérselo es la tarea de un líder carismático que ya no recurre a la prepotencia imperial sino al tono de la criticada palabra. Qué Obama hablaba muy bien, pero era sólo palabras, fue uno de los argumentos de Hillary Clinton en su memorable batalla contra Obama. La señora Clinton se veía rebasada en una lucha que había sido diseñada, hasta en los últimos detalles, para que ella la ganara. El joven senador negro (que algunos se empeñan en reiterar como mestizo buscando quién sabe que efecto) era sólo palabras, pero la señora Clinton no podía comprender que detrás del lenguaje arrollador de su joven oponente estaba un pensamiento, no podía entender que el lenguaje es el arma fundamental de un líder emergente. El lenguaje –está dicho hasta la saciedad- es fiel reflejo de quien lo emite, el lenguaje es la traducción a signos de una estructura mental. El lenguaje puede cambiar al mundo. En efecto, somos escritores por conocimiento del poder del lenguaje, de uno que en la pluma de un escritor puede ser endeble o aparentemente intrascendente, pero que en boca de un líder (de manera especial si lo es de la primera potencia mundial) va a tener un efecto de cambio capaz de modificar estructuras cerradas, de abrir ventanas hasta ahora tapiadas, de hacer correr un aire fresco que permita mirar las cosas de otra manera, aunque nadie perciba de inmediato la trascendencia de la modificación.

IV

Al desafío que el presidente Obama encarna habrá que adecuarse. Me refiero a los timoratos líderes europeos y a los enrevesados líderes latinoamericanos. No hablo de los líderes chinos porque esos están muy conscientes de lo que sucede. Y sobre Rusia hay que entender que desde que Rusia es Rusia resulta imposible ponerle un corsé para dificultarle la respiración. Hay que entender a Rusia como es, poco inclinada a prácticas democráticas abiertas, de manera que la prepotencia zarista de Putin no es muy difícil de comprender. Pero también sobre Rusia deben venir conversaciones ingentes. Estados Unidos y Rusia deben abrir un nuevo diálogo y establecer las bases de una nueva convivencia. Este paroxismo de una “nueva guerra fría” que por momentos se asoma en el escenario mundial es un absurdo y Estados Unidos, sin andar imponiendo democracia por el mundo a los coscorrones, tiene un papel clave que jugar en la evolución democrática de Rusia.

Un encuentro y una conversación posibles entre Obama y Chávez no deben asustar a nadie. O es que alguien piensa que el presidente Obama se va a dedicar a avalar dictaduras. O es que alguien piensa que Obama es el presidente de algún espacio extraterrestre y no de los Estados Unidos. Esa conversación podría ser muy perjudicial para Chávez. Como muy bien lo ha dicho el equipo del presidente electo de los Estados Unidos aquí no se trata de sentarse a tomarse un café, aquí se trata de preparación detallada, de establecer condiciones para que el diálogo fluya, de preparar cuidadosamente los detalles.

La mirada de lo que será la presidencia de Obama hacia América Latina no está definida con claridad. Es aquí donde las ideas y las realidades quizás choquen con más fuerza. Creo yo, desconocido comentarista en la pequeña república que es Venezuela, que el primer movimiento deberá ser hacia Cuba, pero no puedo anticiparme a los primeros pasos del presidente Obama. De algo no tengo la menor duda: la nueva administración abrirá todo el abanico hacia América Latina. Toca a América Latina prepararse para una conversación fluida y sin tapujos que traerá beneficios, aunque también algunos encontronazos ineludibles. De ambas cosas se vive.

He repetido muchas veces que los siglos no comienzan cuando comienzan ni terminan cuando terminan. Cuando terminó el siglo XX puede generar una discusión interminable: quizás –decían algunos- cuando el hombre llegó a la luna, pero lo decían antes de que se revelaran todos los secreto del ADN, de que la cadena de la vida fuera mostrada como resuelta en todo su lenguaje, porque la vida está hecha de letras. Cuando comenzó el siglo XXI es hasta ahora objeto de silencio. Si alguien dice alguna vez que el siglo XXI comenzó cuando Barack Hussein Obama fue electo presidente de los Estados Unidos de América, porque cumplió su misión, se honraría a alguien que llegó a la cúspide del poder mundial y fue capaz de ejercer su magisterio a la altura de las expectativas desatadas y se honraría a la nación que lo permitió, a una nación que fue capaz de voltear su alma para enfrentar los desafíos de un mundo perplejo y de moral golpeada.

* Escritor e diplomata venezolano

sábado, 1 de novembro de 2008

Oportunidade excepcional. Para construção de uma economia global de rosto humano

"Lo que ha sucedido es que la política se ha colocado de nuevo por encima de la economía. Si bien tiene aspectos de salvamento del sistema financiero hay que admitir que desde ahora en adelante ese sistema no podrá andar haciendo de las suyas. La crisis ha reiterado la tesis de la mariposa que bate sus alas provocando un huracán del otro lado del mundo. La oportunidad es buena, excepcional diría, para enfrentar la construcción de una economía global de rostro humano en una democracia del siglo XXI."


La política recobra la primacía


Teódulo López Meléndez *
teodulolopezm@yahoo.com

Me atrevo a decir que lo que hemos visto con la crisis mundial es un ataque frontal de las defensas orgánicas frente a la enfermedad del economicismo. Nuestras vidas, nuestra organización social, todos nuestros intereses, han estado centrados en la economía. Más allá de las causas puntuales de la crisis y de los análisis profundos o desvariantes que hemos escuchado, lo que hemos visto es el quiebre de una preponderancia inadecuada, de un privilegio antihumano, esto es, de la primacía de la economía como guía y señora de la organización del hombre sobre este planeta. Una, además, inepta para corregir las desigualdades y para afrontar la creciente pobreza de una parte inmensa de la población mundial.

No me atrevo a asegurar que la insensibilidad de las cifras económicas sea sustituida ahora por una especie de renacer del interés en el hombre, pero más allá de análisis catastróficos sobre el sistema financiero de este mundo globalizado, más allá del papel del Estado como corrector de las anarquías de los mercados, más allá de los señalamientos burlones sobre la necesidad de intervención sobre este sustrato que supuestamente tiene sus propias medicinas con la condición de que nadie lo toque, a lo que hemos estado asistiendo en estas semanas es a la pérdida de la primacía de lo económico, a la caída de la economía nuevamente bajo la égida de la política.

Uno de mis temas predilectos en el desarrollo de la tesis sobre una democracia del siglo XXI ha sido plantear que la democracia dejó de ser el gobierno del pueblo para convertirse en un sistema que permite que los mercados funcionen con libertad. No soy un intervencionista a ultranza, ni creo que el estado debe poner corsés a la actividad económica. En la economía, como en todas las actividades humanas, debe haber libertad, pero lo que es inaceptable es que el mercado se convierta en un mecanismo superior de regulación social y convierta a la democracia en una mera condición para su funcionamiento. Lo he dicho de otra manera: a lo que hemos llegado es a un punto donde los precios están por encima de los votos.

Es esto, en el fondo, lo que se ha quebrado con la presente crisis mundial. Ha quedado demostrado que la economía debe estar sujeta a la política, que la economía es subsidiaria de la democracia, y no a la inversa. En otras palabras, es en el campo de la política donde se perfecciona el orden económico. Cuando observamos las intervenciones de la Reserva Federal o las contradicciones en el seno del Partido Republicano por una violación de la hasta ahora inviolable ortodoxia de respeto a las correcciones del mercado que también cobra sus culpables, o la decidida acción de los gobiernos europeos, lo que vemos es a la política reasumiendo su verdadero estatus que la coloca por encima de la economía.

Este dominio, llamémoslo dictatorial, de la economía sobre la política, tuvo como consecuencia un alejamiento entre ambas partes hasta llegar a un divorcio de hecho. Quizás la oportunidad más interesante de la crisis es atacar la dicotomía entre una economía que sólo busca ganancias y una política que debe procurar la defensa de los intereses colectivos. Esta nueva convivencia posible requiere de un análisis agudo de cómo los intereses comunes se expresan en el Estado y en las formas y contenidos en que se expresa la democracia del siglo XXI que debe sustituir a la democracia de la era industrial. Es de estas causas, de estas condiciones objetivas, de esta verdad democrática, de las cuales dependerán los elementos de una economía sana.

No hay sistemas económicos perfectos, ni recetas infalibles, pero como siempre que hablamos de democracia hay que decir que la meta es encontrar el equilibrio y que la ciudadanía debe participar en las decisiones económicas, como en las demás, en procura de la superación de los desequilibrios que se originan en el mercado, como ha quedado exhaustivamente demostrado con la crisis mundial.

Es aquí donde hay que admitir –en el caso específico venezolano- que hay que marchar hacia nuevas formas de organización económica sin que ello implique la ruptura de asuntos como el de la propiedad privada. Es perfectamente posible el desarrollo de una economía solidaria sin romper el mercado, porque la única verdad es que hay que reinventar, inclusive al mercado. La economía debe tener aspectos microsociales que para nada rompen la capacidad de elección.

Aquí lo que ha sucedido es que la política se ha colocado de nuevo por encima de la economía. Si bien tiene aspectos de salvamento del sistema financiero hay que admitir que desde ahora en adelante ese sistema no podrá andar haciendo de las suyas. La crisis ha reiterado la tesis de la mariposa que bate sus alas provocando un huracán del otro lado del mundo. La oportunidad es buena, excepcional diría, para enfrentar la construcción de una economía global de rostro humano en una democracia del siglo XXI.

* Escritor e diplomata venezolano